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O dedilhar é leve e preciso. Tiram notas, que somadas uma às outras formam uma melodia. Então, numa conta cujo resultado nem sempre é exato, pois inclui mais do que a métrica dos versos das canções a cultura e a sensibilidade de quem compõem, apronta-se uma música.
Este é o perfil de um grande talento. E com certeza este fulano independerá de artimanhas para dar o seu recado. Estamos falando daqueles recursos extraordinários que famosos ou anônimos costumam usar para destacar, às vezes, aquilo que não tem destaque.
O roqueiro que mais joga a cabeça de trás para frente e da frente para trás do que toca e canta, por exemplo. O tocador de viola que faz tanta careta que se imagina estar o sujeito parindo um som é outro exemplo. O pagodeiro que repete o refrão tantas vezes, mas tantas mesmo que quando a música acaba todo mundo solta um ufa! Aliás, o pessoal da própria banda que o acompanha dá um suspiro de alívio.
Viram como nada tem a ver com o cara do primeiro parágrafo? Cultura, sensibilidade, conhecimento técnico da música e do instrumento resultam em trabalhos elogiáveis. E ninguém vai comentar pelas costas: "Tocou esta música para meia dúzia de parentes e amigos e disseram que era o máximo. E ele acreditou..."
Nada disso mesmo. O fulano que entra hoje no ArteCrônica merece o devido respeito. Seu nome é Fábio Bearzi. É um anônimo no mundo musical. E daí? Nem todos os famosos têm talento. Ou, na versão mais franca, um monte de famosos carece de um bocado de talento.
Cantor, compositor, letrista, tocador de violão e viola, este cambeense se diz um autodidata, embora tenha estudado violão clássico. Começou a tocar em bailes e comícios políticos quando tinha 16 anos. Depois tocou contrabaixo em bandas de rock. Do violão clássico foi para a viola caipira e chegou a conquistar um terceiro lugar num dos dois festivais promovidos pelo Sesi dos quais participou, defendendo uma composição própria.
Temos um CD com 21 faixas de músicas desse cara. Na verdade, ele nunca gravou nada comercialmente. A raridade foi conseguida pelo Karlinhos e é uma espécie de book musical, produzido sem a ajuda da tecnologia dentro de um quarto ou de uma garagem. Garagem, aliás, é força de expressão, partindo do princípio de que toda banda famosa, quando conta a sua história, sai com um trecho informando que o grupo começou na garagem. Pois é...
Mas a produção que apresenta o Fábio é artesanal mesmo. Talvez por isso cative e envolva. Provavelmente por ser uma gravação precária tecnologicamente é que estimula o ouvinte a assimilar notas, tons, letras e sentimentos. Isso começa na faixa um, que é um jingle feito para a empresa à qual o autor está vinculado profissionalmente. Prestem atenção: "Mola que é dura, não dura / mola que é mole, arreia / mola beleza só pode / ter sido feita na AESA..."
Não é preciso escrever mais nada. O leitor já sabe de quem estamos falando. Do Fábio, neto do pioneiro Ronald Tkotz. Aliás, uma das músicas foi para homenagear o avô: "Ele chegou nessa terra em meados de 30 / Trouxe ele aqui para que eu não minta / Na mala trazia a cara e a coragem..."
E assim por diante. Em todas as faixas, a viola se faz presente de forma altiva. Os gêneros são diversificados e isso empolga, porque há desde a música que lembra o cancioneiro de raiz, coisa que vai se tornando rara entre os jovens, como também o country, cantado em inglês e com gaita junto com o dedilhado, naquele ritmo de country bem típico.
Num samba da faixa nove, o autor fala de justiça social, com a mesma clareza e definição que canta o amor na faixa cuja letra diz: "Eu aqui e ela lá / Sem poder se encontrar / Procurei por amor e encontrei paixão..."
Alguns clássicos da música pop mundial também são executados nas cordas, como Eleanor Rigby, de John Lennon e Paul McCartney, eternizada pelo The Beatles. E há, em pelo menos uma das faixas que tivemos oportunidade de ouvir o cantar de pássaros, o que dá um toque sertanejo autêntico e de bom gosto.
Fábio Bearzi traz nas veias a influência da descendência alemã e italiana. O moço já estudou na Alemanha e se formou engenheiro em Floripa. Podia depois do violão clássico ter optado por algo sofisticado. Preferiu a raiz, com a viola caipira. E se tiver a chance de ter as músicas de sua autoria trabalhadas por um ourives da canção vai surpreender muita gente. É coisa boa para os ouvidos torturados por arranhões sonoros.
Artigo publicado no Jornal de Cambé em 13 de maio de 2011